sábado, 31 de julho de 2010

Romance Minímo



Ela sempre morou na Baixada fluminense. Irmã mais nova de cinco irmãos. Desde nova o pai trabalhava no mangue de Magé para colocar comida na mesa. A mãe suicidara após descobrir que tinha câncer de traquéia e que depois da cirurgia não poderia mais falar.
Ele sempre teve a vida fácil. Morador da Barra da Tijuca, filho único de pai e mãe médicos. Mimado,playboy, nunca gostou de estudar, nunca precisou trabalhar. Até que um trágico assalto na avenida das Américas culminou na morte dos pais. Um tiro certeiro na testa de cada um. Foi trabalhar como trocador de ônibus. Sua vida passou pela roleta.
Ela resolveu fazer cursinho pra ser alguem na vida e deu de pegar sempre o mesmo ônibus em que ele trabalhava. Viraram amigos, quase irmãos.
Num barzinho na Lapa rolou o primeiro beijo e naquela mesma noite a primeira foda.
Começaram a namorar. Não porque tinham as mesmas idéias do que era legal, justamente o contrário. Estavam juntos por exclusão. Não gostavam de funk, não gostavam de Crepúsculo, não gostavam do Flamengo, não gostavam de ovo, não votaram no Lula, não assistiam novelas, não leram Paulo Coelho.
Mesmo assim, foram felizes dois anos. Ele só a traia virtualmente, se masturbando pela cam no MSN. Ela o traiu algumas vezes, mas sempre com seu primo gago ( tudo bem discreto, e sempre usavam camisinha).
Até que em fevereiro do ano passado ela pegou pneumonia e morreu. Foi doença oportunista, visto que ela tinha SIDA e não sabia. Pegou ainda feto, não se sabe se da mãe ou do pai.
O destino, veja só, deu um tapa na cara dele. Primeiro quis tomar veneno, mas descobriu que ainda podia ser feliz. Passou a vender maconha, olha só, no mangue em Magé onde seu sogro trabalhava.
Diz-se que tem interesse em uma pescadora de caranguejos de lá. Vai saber!
Baia de Guanabara, é impossível, mas eu vejo!

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